10 de novembro de 2013

Por favor lê-me

Escrevo na esperança que ainda estejas por aí. Que ainda me leias, mesmo que escreva pouco. Não penses que me faltam as palavras. O que me falta és tu.
Há uma coisa que hoje temo tenha ficado por explicar. Não que não tenha tentado, mas que não tenhas percebido. Eu nunca te poderia ter trocado. Por quem fosse. Como se tu pudesses ser substituída, tu que sempre foste a luz que me arrancava da cama. Chegavas de mansinho, e entravas pela menor das frestas, depois deixavas-te cair sobre mim e iluminavas-me a vida. Para ti eram palavras. Palavras doces em que sonhavas acreditar. Mas eras traída, pelo tempo e a dor, as cicatrizes rasgavam-te a alma, em seis mil pedaços que vi espalhados pelo meu chão. Todas as noites me ajoelhei e procurei por ti, debaixo da cama, debaixo do mundo. Todos os dias te sentei na borda da mesa e te colei os pedacinhos que faltavam, como se tu precisasses ser corrigida. Salvaste-me a vida enquanto pensava cuidar de ti. Todas as noites te deitei e deixei que dormisses, nessa paz tão tua. Há uma coisa que nunca acreditaste. Eu estava contigo porque queria. Sempre. Hoje estás-me no sangue, és parte de cada passo e marcas-me a vida. Estás sempre comigo, e tenho a sorte de poder olhar para ti. Deixo-me ficar e vejo-te. Ser e existir e isso basta-me. Para viver. Enquanto estiveres comigo está tudo bem. Enquanto existires, mais nada existe. Se deixares de existir, mais nada existo. Só quero que saibas que foste, e és, a melhor coisa que sei, e a única que consegui aprender. Como uma melodia que te faz dançar  a alma. O rumba, o tango, tu. Porque tu és tudo.


Escrevo na esperança que ainda estejas por aí. Que ainda me leias, mesmo que escreva pouco. Não penses que me faltam as palavras. O que me falta és tu.