25 de fevereiro de 2013

Letter XLII

Descobri que é fácil amar quando as coisas correm bem. Um sorriso é amoroso e um abraço amável.
Mas enquanto não amarmos o gelo das lágrimas e os dias pesados que queimam o corpo, não teremos amado de verdade. Só amando as dificuldades teremos o direito de aproveitar os dias fáceis. Quanto mais amarmos, mais fáceis se tornam, mais frequentemente se encontram. O amor está no sangue e não no sono. Amamos. De forma inata. Depois começamos a pensar e deixamos que o cérebro fale mais alto que o coração. Paramos de nos deixar levar. É aí que vêm os dias difíceis. É aí que te adoro.

Acima de tudo o resto.

15 de fevereiro de 2013

Letter XL

São trinta cartas já. Trinta cartas que te escrevi e a caneta deixou marcas na minha pele. Marcas de erros e falhas, dias em que te deixei ficar mal. Há duas coisas que entendi com o tempo. Na verdade, foram três. A pior de todas é que o tempo não espera por nós, e que se quisermos desperdiçar um dia o tempo avança e não se importa minimamente se carregamos o peso desse desperdício para sempre. As outras duas são que vamos sempre errar, mas que podemos aprender com os erros. Vivemos condenados a esta condição humana, que erra, mente e tem falhas. Vivemos com medo. Medo de deixar ficar mal, deixar ficar, ficar sozinho. Embrenhamo-nos em corpos e garrafas, que não aquecem o sangue, não aceleram a mente. Deixa-mo-nos guiar por estímulos estereotipados a que a a sociedade reage, mas não nós. Mas deixa-mo-nos ir. Porque sim. Porque ele fez. Porque ele gostou. Alguém, que não nós, seguiu esse caminho e convenceu-nos de seria bom. A verdade é que não é bom. A verdade é que se nos deixarmos levar, não poderemos voltar atrás. Bem, eu aprendi uma coisa, e não sou ninguém para isso, mas tenho uma opinião. Deixem-se levar. Inspirem, fechem os olhos e saltem. Talvez a relva seja mais verde do outro lado, talvez atinjam uma parede com tanta força que vos tremam os ossos, talvez se arrependam. Mas quem arrisca faz. E só quem faz erra. Portanto o meu conselho é que errem, errem muito. Mas nunca se esqueçam do que importa. Existem várias maneiras de falhar. Eu escolhi sempre errar por amor. Eu escolhi sempre o amor. E ainda trago cicatrizes abertas no corpo de escolhas que fiz. De escolhas que não me arrependo. Às vezes uma mentira preserva um sorriso, às vezes uma mentira permita que algo cresça, se torne forte. Claro que podemos pensar que se torna forte com base numa mentira. Naturalmente, como humanos que somos, erramos nesse pensamento. Nada cresce com base numa coisa. Se isso fosse assim não existiriam problemas. Bastava criar uma minúscula coisa boa, e viver dela todo o tempo que nos restasse. Nada cresce com base numa coisa. Aprendi que uma relação cresce com tudo o que acontece. Tudo o que acontece. Talvez o que provoca uma lágrima hoje enrijeça o corpo e afaste o mal. Como uma armadura, que amortece o que bate e protege o que fica. Ainda existem duas lições que trago comigo. A primeira, é que no final, és tu que ficas. Só isso. A areia nos pés e o sal no cabelo, uma manta que te cobre o corpo inteiro, os chinelos ou os saltos, o sorriso ou as lágrimas. No final és tu que ficas. Nunca te poderei dizer que foste o meu primeiro beijo. Nunca te poderei dizer que foste a única. A verdade é que foste a primeira que tive, a primeira que conheci. A verdade, é que ainda hoje te trago comigo. Tatuada no sangue, no avesso da alma. A verdade, é que no fim, és tu que ficas. Com o meu sangue no peito, a minha alma na pele. E como pode alguém compreender isso ? Se foste tu, sempre tu quem me viu falhar ? Pergunto-te, e perco-me na arrogância de te exigir uma resposta, como pode alguém fazer-te frente ? Tu, que engoliste montes e vales para me manter por perto. Como se eu precisasse ser forçado. Como pode alguém fazer-te frente ? Vi o mundo nos teus olhos em cada dia, como se viver dos teus olhos fosse um privilégio ao meu alcance, ou olhar-te uma vida um direito meu. Sabes o que fiz quando te conheci ? Fechei os olhos, inspirei e saltei. Bati em ti com tanta força que os nossos nomes se uniram. Deixei para trás o que não existias, e vivi-te. Cada segundo, numa dura luta com o tempo, para lhe roubar o máximo de ti que eu pudesse. Hoje sei que ganhei. Percorro-te as rugas com as costas da mão mas os teus olhos ainda brilham. O teu corpo ainda me fascina. Como se alguém te pudesse fazer frente.
Por fim, a última coisa que importa referir.

No fim ficará tudo bem. Se não está tudo bem, ainda não é o fim.

13 de fevereiro de 2013

Letter XXIX

Quero mascarar-me de ti no próximo carnaval. Quero sair à rua com o teu cheiro e saber como e ter um mundo inteiro olhar para nós. Quero mascarar-me de ti e saber como se sente uma estrela. Que brilha durante gerações e ouve os desejos de milhares de sonhadores. Quero mascarar-me de ti e viver na loucura da tua unidade, quero voar pelas ruas e deixar que os olhos me percorram o corpo. No sentimento de que nunca o terão. Quero ser como tu. E fazer de ti a minha pele, mais que uma máscara. Quero começar no carnaval e aterrar no dia dos namorados. Quero namorar-te. O dia inteiro. Sem máscaras, embrulhos ou desvios. Só nós, porque no fim é isso que fica. O que fizemos, o que somos. Quero mascarar-me de ti. Quero namorar-te a vida toda. Tenho saudades tuas.

És a melhor coisa que me aconteceu.

6 de fevereiro de 2013

Letter XXVIII

Há coisas que gostava de saber. Gostava de poder levantar-te e sentar-te na bancada da cozinha como sempre fiz. Gostava de te sentar ali como uma criança e perguntar-te se é isto que sentes. Se é isto que vês. O que me faz mais falta são os teus olhos. Como se eu não pudesse ver sem eles. Aquele brilho ofuscante que iluminava a sala inteira. Gostava de saber se também sentes que Deus colocou um anjo na Terra só para ti. Alguém que te guia e carrega se tropeças. Como se eu pudesse merecer-te. Quero perguntar-te se te consideras sortuda, se consideras que não poderias ter mais. Eu acredito nisso. Que não podia ter ninguém melhor. Porque eu conheci muita gente antes, e gostei de algumas dessas pessoas. Gostei. Só isso. Nunca senti esta vontade que me assalta de roubá-las e guardá-las só para mim. Eu nunca soube partilhar-te. Não quando o teu sorriso era mais valioso para mim que qualquer objeto que eu pudesse comprar. Tu não tens preço, rótulo ou marca. És uma edição limitada, tão limitada quanto a perfeição. E eu não soube de ti enquanto te procurei por toda a parte, mas baixei os braços e tu atingiste-me com tanta força que o mundo ainda não parou de girar. E é tudo para ti, para o que encontraste. É tudo à tua volta. És a minha gravidade, o anjo que me guia. Gostava de perguntar-te se alguma vez te fiz sentir completa. Se alguma vez te fiz querer passar a vida contigo. Gostava de perguntar-te uma coisa. Apenas e sempre uma. Ainda, mas não sempre, não.

Gostava de te dizer que não podias ser melhor. Como se tu pudesses acreditar.