16 de janeiro de 2013

Letter XXXVI

Tenho sonhado contigo. Na verdade, sempre sonhei. Todas as noites. Há uma coisa que me custa, mas que tens que saber. Nunca, nem uma vez, um desses sonhos foi bom.

Já te perdi de tantas maneiras diferentes que não acredito que me pudesses surpreender. Já te vi partir por mentiras e traições, medos e fúrias. Vi-te voltar as costas e pôr um pé à frente do outro, uma e outra vez, até te perderes numa qualquer esquina. Na maioria das vezes, eu não sei porque foste, mas sei que não voltas mais. Há muitos anos, quando o sangue ainda fervia naquele corpo de miúdo, deitei-me a pensar que talvez não pudesse sonhar, se te vivia. Talvez, a única forma de manter a minha sanidade, era dar-me noites terríveis, tão más tão más que eu pudesse acreditar que os meus dias eram verdade. Sorri ao concluir que o meu consciente tentava proteger-me. Sorri não por felicidade, mas por carinho. Um carinho enorme por aquela consciência tonta que achava que uma vida de pesadelos podia equilibrar uma existência de sonho. Como se alguma coisa pudesse equiparar-se a ti, mesmo que simetricamente. A verdade, é que nada te pode fazer frente. Lembro-me de ser engolido pelas trevas, cair em buracos sem fundo, lembro-me de perder o ar, a noção do tempo, lembro-me do mal. Mas acima de tudo, lembro-me que de manhã estavas ali. Sempre. Inevitavelmente do que acontecesse durante aquelas horas. Como se alguma coisa pudesse equiparar-se a ti. Tenho saudades tuas. De forma sistemática. Se te levantas para ir buscar algo que, na tua cabeça, eu preciso. Não preciso. Preciso que te atires contra mim com tanta força que a tua pele me cubra os ossos. Duas mentes num só corpo. Até que a morte nos separe certo ?

Como se alguma coisa pudesse equiparar-se a ti.
Como se alguma coisa pudesse separar-nos.


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