15 de fevereiro de 2013

Letter XL

São trinta cartas já. Trinta cartas que te escrevi e a caneta deixou marcas na minha pele. Marcas de erros e falhas, dias em que te deixei ficar mal. Há duas coisas que entendi com o tempo. Na verdade, foram três. A pior de todas é que o tempo não espera por nós, e que se quisermos desperdiçar um dia o tempo avança e não se importa minimamente se carregamos o peso desse desperdício para sempre. As outras duas são que vamos sempre errar, mas que podemos aprender com os erros. Vivemos condenados a esta condição humana, que erra, mente e tem falhas. Vivemos com medo. Medo de deixar ficar mal, deixar ficar, ficar sozinho. Embrenhamo-nos em corpos e garrafas, que não aquecem o sangue, não aceleram a mente. Deixa-mo-nos guiar por estímulos estereotipados a que a a sociedade reage, mas não nós. Mas deixa-mo-nos ir. Porque sim. Porque ele fez. Porque ele gostou. Alguém, que não nós, seguiu esse caminho e convenceu-nos de seria bom. A verdade é que não é bom. A verdade é que se nos deixarmos levar, não poderemos voltar atrás. Bem, eu aprendi uma coisa, e não sou ninguém para isso, mas tenho uma opinião. Deixem-se levar. Inspirem, fechem os olhos e saltem. Talvez a relva seja mais verde do outro lado, talvez atinjam uma parede com tanta força que vos tremam os ossos, talvez se arrependam. Mas quem arrisca faz. E só quem faz erra. Portanto o meu conselho é que errem, errem muito. Mas nunca se esqueçam do que importa. Existem várias maneiras de falhar. Eu escolhi sempre errar por amor. Eu escolhi sempre o amor. E ainda trago cicatrizes abertas no corpo de escolhas que fiz. De escolhas que não me arrependo. Às vezes uma mentira preserva um sorriso, às vezes uma mentira permita que algo cresça, se torne forte. Claro que podemos pensar que se torna forte com base numa mentira. Naturalmente, como humanos que somos, erramos nesse pensamento. Nada cresce com base numa coisa. Se isso fosse assim não existiriam problemas. Bastava criar uma minúscula coisa boa, e viver dela todo o tempo que nos restasse. Nada cresce com base numa coisa. Aprendi que uma relação cresce com tudo o que acontece. Tudo o que acontece. Talvez o que provoca uma lágrima hoje enrijeça o corpo e afaste o mal. Como uma armadura, que amortece o que bate e protege o que fica. Ainda existem duas lições que trago comigo. A primeira, é que no final, és tu que ficas. Só isso. A areia nos pés e o sal no cabelo, uma manta que te cobre o corpo inteiro, os chinelos ou os saltos, o sorriso ou as lágrimas. No final és tu que ficas. Nunca te poderei dizer que foste o meu primeiro beijo. Nunca te poderei dizer que foste a única. A verdade é que foste a primeira que tive, a primeira que conheci. A verdade, é que ainda hoje te trago comigo. Tatuada no sangue, no avesso da alma. A verdade, é que no fim, és tu que ficas. Com o meu sangue no peito, a minha alma na pele. E como pode alguém compreender isso ? Se foste tu, sempre tu quem me viu falhar ? Pergunto-te, e perco-me na arrogância de te exigir uma resposta, como pode alguém fazer-te frente ? Tu, que engoliste montes e vales para me manter por perto. Como se eu precisasse ser forçado. Como pode alguém fazer-te frente ? Vi o mundo nos teus olhos em cada dia, como se viver dos teus olhos fosse um privilégio ao meu alcance, ou olhar-te uma vida um direito meu. Sabes o que fiz quando te conheci ? Fechei os olhos, inspirei e saltei. Bati em ti com tanta força que os nossos nomes se uniram. Deixei para trás o que não existias, e vivi-te. Cada segundo, numa dura luta com o tempo, para lhe roubar o máximo de ti que eu pudesse. Hoje sei que ganhei. Percorro-te as rugas com as costas da mão mas os teus olhos ainda brilham. O teu corpo ainda me fascina. Como se alguém te pudesse fazer frente.
Por fim, a última coisa que importa referir.

No fim ficará tudo bem. Se não está tudo bem, ainda não é o fim.

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