6 de outubro de 2012

Carta XV ou "Que Diana ?"

Ontem liguei a TV. Arrependi-me.
Estava a dar a história de um rapaz que conheceu uma rapariga numa das manifestações de Lisboa, e que se dispôs a encontrá-la, cuspindo palavras de amor verdadeiro. Ao que parece era tudo falso, uma pérfida publicidade, destinada a mexer com o que ainda mexe nas pessoas. Para mim, é isto que está mal. Vivemos uma crise e tudo isso, mas eu passava bem sem luxos. Não passava bem sem ti. Mas as pessoas esqueceram-se disso. Venderam a alma ao diabo e o amor às televisões. Banalizaram o amo-te. Carimbaram-no na boca de qualquer miúdo de 10 anos que veja uns minutos de televisão ao fim da tarde. Venderam o amor. E isto sim devia preocupar-nos.
Eu desconfiei logo daquela história. Eu senti amor à primeira vista um dia, e estranhei ao vê-lo justificar centenas de cartazes e faixas com esse nobre sentimento. Como poderia ele sentir isto que me queima e colocar faixas nas rotundas ? Desconfiei. No lugar dele teria incendiado os céus, e roubado a espuma do mar para escrever o teu nome. Tatuaria a tua cara no meu sangue e o teu corpo gritaria em mim. Eu desconfiei logo. Este amor que arrasto por se agigantar perto de mim, não se leva para a TV, não se conta a um qualquer jornalista. Eu teria virado o mundo do avesso, por um só beijo teu.
Devíamos vender-nos mais caros. Não nos trocarmos por coisa nenhuma, denegrir um sentimento por um perfume. Já sinto o cheiro, que impesta o quarto e apodrece o chão. Venderam o amor, e agora querem engarrafá-lo. Estamos em crise. E o problema é a falta de Dianas. Daquelas figuras que fazem virar mundos e fundos. Helena, Cleópatra, Julieta. Tu. Como pode alguém comparar-se a ti, meu amor ?
Eu poderia levar-te para a TV, eu poderia contar a nossa história para que todo o mundo baixasse os olhos ao ver-te passar. Eu poderia vender-nos. E provavelmente de forma muito mais convincente. Mas quem poderia comprar-te ? Uma pessoa como tu não se tem, não se prende, não se sabe. Tu vais e vens, como o vento. Por isso não preciso de cartazes. Abro a janela e a rua grita-me o teu nome, por esta necessidade de ti que não me passa.
Ontem liguei a TV. Arrependi-me. Hoje voltei a sentar-me aqui, a falar-te. Falar-te ao ouvido com palavras da alma. Para que saibas que não és Diana. Nem nada que se compre. Quero que saibas que tu venderias até pedras se o quisesses. Se o amor se pudesse comprar.
Eu amo-te. Mas não como se vê nos filmes...

De verdade.

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