4 de dezembro de 2012

Letter XXVII

O que faz de nós mais que pó se as coisas que fazemos não são mais que poeira ? Hoje acordei a pensar que ninguém saberá de nós daqui a 200 anos. Ninguém saberá o quanto te amei, o quanto te quis, o quanto te soube. Ninguém saberá o meu nome sequer. Mas eu sei o teu. Eu sei o teu e nunca vou deixar que desapareça. Mesmo que a minha voz não chegue muito longe e eu vou gritar o teu nome, e vou semeá-lo no vento e na chuva. E a chuva vai cair, e bater nas janelas, como que sussurrando por ti. E talvez não oiçam, mas sintam este calor que sinto no peito, como uma luz que se vem aninhar a meu lado, e que fica comigo, por bem mais que dois séculos ou o que o homem pode contar. Eu conheço-te desde sempre. Conheci-te antes do mundo se perder em vícios e medos, antes deste escuro que nos engole cair sobre nós. Eu não me vou esquecer de ti. Mesmo que viva mais um milhão de anos. Se somos do tamanho daquilo que vemos nesta sociedade de promiscuidades e pequenos valores, eu sou gigante. Por te ver em mim e deixar-me seguir em ti, ao sabor do teu corpo que me embala e atrai. Nesta sensual cumplicidade que me faz querer fazer de ti a pessoa mais feliz do mundo. E então tu sorris, o mundo pára e eu sei o que sou. Pó. Deixo-me poisar na tua face e desejo que não me sacudas, que me deixes ficar mesmo que só segundos, porque em ti, contigo, vi o mundo valer a pena. Em ti, contigo, fiz do mundo uma pequena pena. Que ponho no teu cabelo enquanto as tintas te cobrem a cara numa maquilhagem que tenta esconder o que não podes esconder. Porque tu brilhas debaixo do mais pesado dos lençóis.

 Porque tu és tu, e ninguém pode competir com isso.

Sem comentários:

Enviar um comentário