15 de setembro de 2012
Letter VIII
Um rapaz cresce a evitar qualquer tipo de rosa, e
quanto mais claro pior. É semelhante ao que se pensa dos sentimentos. Quando
somos pequenos, o rosa é de menina, e a menina não joga à bola, não corre, não
rasga os joelhos conosco, não se interessa por nós. Por isso quem paga é o
rosa. É olhado de lado e desrespeitado, é posto de parte pelo chamado
"sexo forte". Sexo forte esse, que tem medo de uma cor. Sim, a cor é
imutável. Sim, a cor é eterna. E isso pode ser assustador, o rosa estava cá
quando cheguei, e vai ficar cá depois de mim. Ainda assim, crescemos a evitar a
cor que nada fez contra nós, e criamos barreiras contra ela. O sangue pode ser
azul, mas o peito não é rosa. A dor pode ser negra, mas uma vitória não é rosa.
O mundo pode estar a preto e branco, mas o fim do mundo não é rosa ! O que é o
rosa então? "O medo é o pai de tudo o que te prende" ensinaram-me.
Então será o rosa que nos faz tremer na presença daquela rapariga? Será o rosa
que nos enrola a língua e rouba as palavras que preparámos e decorámos? Será o
rosa que torna o sexo forte, fraco? Não. Não penso que seja assim tão óbvio. O
que nos faz tremer são os olhos dela, o que nos enrola a língua é o seu toque,
o que nos torna fracos é a idéia de uma ausência para a qual deixámos de estar
preparados. Então talvez o meu peito não seja rosa, mas poderá o coração sê-lo?
E se rosa não for o fim do mundo, mas o início? Lembro-me de ter 7 e 8 anos e
ter poucas preocupações. Resumidamente preocupava-me com quem trazia a bola, e
quem jogava da minha equipa. E ali era tudo muito duro, muito forte. Um golo é
azul. Um passe perfeito é dourado. Não existia por ali nenhum rosa, muito menos
clarinho. Lembro-me de ter 14 ou 15 e começar a preocupar-me com mais coisas,
já me preocupava se a minha equipa era boa ou má, e se a outra era melhor. Mas
lembro-me de alguns raios de rosa nessa altura. Mas nós desviávamos sempre o
olhar, claro que não pensávamos nisso. Sempre muito longe de nós, esse rosa que
nos perturba e muda. Lembro-me de ter 18 anos, ainda muito duro, arrogante,
muito consciente do que sentia, do que não sentia. Muito azul, de um azul
gritante, que me protegia. Lembro-me de ver este super azul ser derrotado pelo
fraco rosa. Pior, por um rosa clarinho. Um beijo e o arrogante
azul perdeu-se em braços e amassos.Um beijo, e o azul imortal
sentiu-se frágil, sentiu-se vivo. Sentiu-se. O brilhante azul reconheceu-se. No
rosa clarinho que evitou toda a sua vida. E agora, via naquele rosa clarinho um
mundo inteiro. Um mundo de expectativas, de promessas, um mundo de sonhos e de
sonhadores. Um mundo que jurou proteger, com a sua força, a sua arrogância. Mas
agora não era arrogante por orgulho em si, nem naqueles que o pintavam e
protegiam. Mas no seu pequeno e frágil rosa. Um rosa clarinho que tão pequeno
mostrou-se dono de uma força imensa, uma capacidade de parar o tempo, a chuva,
o mundo. Será então isto que sinto por ti? Uma cor?
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