6 de setembro de 2012

Letter IV

Tenho saudades tuas. Pergunto-me se ainda saberás o que são saudades. Pergunto-me se te lembras do ardor que nos invade e aperta o estômago, como se não pudesses não estar aqui. Mas não estás. Sinto-me envolvido por este torpor que me adormece a carne numa expectativa de que chegues, que venhas e fiques.
 É tudo melhor quando vens, por esta necessidade de uma companhia que se enraizou em mim e que eu alimento todos os dias. Não sei cansar-me de ti.
 Confesso, nunca fiz grandes esforços nesse sentido. Ainda assim, não conseguiria mesmo que tentasse. Mesmo que tentasse com todos as minhas forças. Todos os dias. Sinto-me atraído por ti. Não pelo teu corpo, invejável aos olhos de qualquer outra, mas pela forma como vens. Como os teus olhos saltitam por toda a parte antes de pousarem em mim, com essa doçura que me abraça e protege. O que me atrai é a tua forma de seres minha, pela vontade que tens em sê-lo. Como se eu te merecesse ou tivesse algum direito sobre ti. Não tenho, nem poderia ter. Uma força assim não se controla. Eu vivo nesta doce manto de uma honrosa oportunidade para te acompanhar, todos os dias, até ao fim. Ao fim do mundo ou do tempo, não o nosso. Como poderíamos nós ter fim se não tivemos um início? Tu que foste Cleópatra e ajoelhas-te Roma a teus pés, tu que foste Helena e conduziste a Grécia para a guerra. Tu minha Julieta que justificas qualquer veneno. Por esta incapacidade de caminhar num mundo vazio de ti,
 Um mundo que foi feito para suportar os teus passos. Para que nunca pares e todos te vejam, e que te vendo me conheçam, porque o somos nós senão dois num só corpo?

Mais do que a soma das partes, somos um todo uno. Hoje e sempre.

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