Porque se pintou o mar da cor dos teus olhos como se merecesse olhar
para ti? Quem pintou as nuvens da cor dos lençóis em que te deito nesta noite
tão nossa, em que ficamos os dois. Nós cá dentro, o mundo lá fora. Exatamente e
sem nada acrescentar ao que realmente devia ser o mundo. Um furacão de motivos
para saltar um batimento deste coração que ficou pequeno para que o leves para
onde vás. O que faz de uma pessoa mais que isso ?
Na nossa vida, em qualquer
ponto, existe uma tabuleta, meio escondida pelo tempo e a floresta, que nos diz
que se formos por aquele caminho corremos o sério risco de ser sacudidos. Pelo
mundo, pelo vento, pelo tempo. Chegaste com tanta força que me arrancaste os
pés do chão.
Sinto os músculos tremerem com medo deste monstro que não conheço.
Sinto-me arrepiado por tamanho gigante que me afronta e me absorve. Sinto-me
como se não pudesse parar. Como se a distância estivesse invertida e o longe
fosse perto. Porque o que mais desejo é aproximar-me deste perigo que me
engole. Como pode uma pessoa tão frágil agigantar-se desta forma. Deixar
formigueiros onde antes só existiam músculos, semear preocupação em terrenos
queimados pela arrogância. Como pode alguém tão indefeso tornar fraco o forte ?
Eu devia ter lido a tabuleta. Devia ter procurado, devia estar
preparado. Deixei que me apanhasses de surpresa. Chegaste sem saber de onde, e
apareceste sem que eu perceba como. Recolho as mais lindas flores e espero que
te afastem os teus olhos de mim. Talvez não percebas que acabei de acordar da
escuridão que foi. Da escuridão que era.
Como se tu não soubesses tudo minha querida.
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